terça-feira, fevereiro 23, 2010

Interrogação












Penso que nesse momento em nada penso. Quer dizer que nesse momento não penso?











sexta-feira, fevereiro 19, 2010

Carnaval


Amor de carnaval termina na quarta-feira de cinzas. Não é? Não sei... mas lembro de você parada no gramado do alto da praça. Bela praça. Região mais elevada, mais de 1.500 metros de altitude. Música, violão, percussão, djam-bê, barzinho improvisado no meio da natureza. Avistava toda a cidadela, a Igreja ao meio, ao redor casebres do século XVIII e suas janelas sapientes. Janelas que olhavam de olhos fechados. Sim. De olhos fechados. Não, não eram os teus que, de tão abertos, pareciam tocar a minha alma. De fato tocaram. Olhos castanhos circunscritos pelo aro de acetato preto. Óculos contrastados com as madeixas douradas de teus cabelos. Olhar profundo e fixo. Minha respiração parou durante um tempo. Suspiro. Nunca pensei que fosse possível. A sensação que senti? Nunca pensei que fosse possível. Senti que te conhecia. Mas não era verdade. Era? Você não me disse nada. Não me disse nada! Mas entendo. Eu também não lhe disse nada. Não poderia. Não faria sentido. Não era necessário. Nossos olhos trocavam palavras. Teus olhos diziam versos. Nos dizemos sem nos falar.

domingo, fevereiro 07, 2010

No meio da pedra


No meio da pedra tinha um caminho
tinha um caminho no meio da pedra
tinha um caminho

no meio da pedra tinha um caminho...

Jamais me lembrarei deste acontecimento
na vida de minhas retinas rios nascentes
jamais me lembrarei que no meio da pedra
tinha um caminho,
tinha um caminho no meio da pedra

no meio da pedra tinha um caminho...
no meio da pedra molhada


Fotografia: Fernando Gonçalves

sexta-feira, fevereiro 05, 2010

O sono dos justos


Trim, trim, triiiiiiiiimmmm!!!!!!

Abro um olho, penso alguma coisa sem nexo, fecho o olho novamente na esperança inútil de que poderei voltar a dormir o que chamam de “sonhos dos justos”.

Trim, trim, trim, trim, triiiiiiiiimmmm, triiiiiiiiimmmm!!!!!!

Um pensamento me ocorre e me conformo: “não mereço o sono dos justos”. Uma dose de sinceridade e conformismo pela manhã sempre vai bem, o problema é que a minha cabeça lateja e a boca está totalmente seca. Maldita ressaca que não me deixa acordar!

Triiiiiiiiimmmm, triiiiiiiiimmmm, triiiiiiiiimmmm, triiiiiiiiimmmm!!!!!!

Pronto to de pé! É melhor desligar esse maldito despertador antes que a minha cabeça entre em profusão. Num lento caminhar em busca de um tão sonhado copo d’água encontro com a última pessoa que esperava encontrar: o meu chefe!

- Bom dia Gustavo, a noite foi boa ontem?
- Fala aí chefe! Ontem foi dia de carteado.
- Então já está pronto para o batente!

Porra é claro que não!!! Será que esse mané não vê a minha cara amarrotada e não escuta a voz arrastada? E olha que eu nem estou tentando mostrar disposição pro trabalho. Se vocês acharem pertinente escutar um conselho meu aí vai: não more com o seu chefe, conviva o mínimo possível com o bastardo, pois se não terá que enfrentar situações tão animadoras quanto essa!

- Ô chefe guenta a mão só vou lavar o rosto e tomar um café bem forte que é pra acordar direito.
- Só assim pra curar essa sua ressaca recorrente!
- Que isso patrão até parece que eu bebo o dia inteiro.

Depois não falem que eu não avisei. Olhem a saia justa que a gente cai. O problema é que como ele é meu superior eu sou obrigado a aguentar todas as ironias e sarcasmos que ele quiser disparar. E como se não bastasse é de manhã, e cedo!

A medida que eu caminho para cozinha em busca do tão milagroso café eu vejo o que pode ser a solução dos meus problemas: uma tão atrativa garrafa de whisky 8 anos. O mais incrível é que ela — a garrafa de whisky — ainda tão novinha já está aí salvando vidas!

Sem pestanejar apanho a bendita e num último pensamento do adeus ao meu chefe, já que ele sou eu quando são. Assim, um bom sono comprades!

P.S.: Qualquer coincidência com a realidade é apenas uma coincidência, entenderam?