quinta-feira, agosto 22, 2013

Divagações #1

De alguma forma o sono escapava Dele. Nas últimas noites era frequente se revirar na cama em busca de algum sossego e ainda assim o sono sempre escapava. Por mais que as noites mal dormidas cobrassem um preço o cansaço do dia seguinte nunca era suficiente para uma noite plena de sono. Com o coração inquieto era improvável que voltasse a ter as mesmas madrugadas tranquilas.

Na maior parte das vezes a paz só encontrada sabendo que se tem alguém em que amparar e em que possa contar, mesmo que o preço para isso seja caro de mais. Na verdade, nessas situações não se discute valor – mesmo que o “objeto” neste caso não tenha uma medida financeira. Em certos momentos só queremos dar a algumas pessoas aquilo que temos de melhor e sem pedir nada em troca. Apenas que aceitem a companhia, o carinho e o desejo de estar junto.

Na vida só é possível encontrar paz na calmaria de quem se ama. Se há alguma tempestade isso vale para os dois. É difícil compreender o porquê a tranquilidade nos escapa quando sabemos que quem amamos não a possuí. Mesmo quando para sermos protegidos somos deixados de lado. Isso porque a luta de um, querendo ou não, se torna a luta de dois – e disso Ele sabia que não abriria mão.

Enquanto divagava próximo à sacada da varanda – de posse de um cigarro, companheiro na hora de pensamento – o tempo seguia noite à dentro. E ele seguia sem dormir com o pensamento colado Nela.

segunda-feira, agosto 19, 2013

Um pouco sobre o tempo


Ali parado contemplando a noite cair e um horizonte cortado pela silhueta das montanhas é espantoso como é possível perceber o tempo. Em uma paisagem em que montes, com suas vegetações e árvores, mesmo diante do extrativismo mineral, mantém-se imponente e quase imutável. Enquanto isso na cabeça um turbilhão de pensamentos nos moldam a cada momento e nos transformam em uma nova pessoa.

Em poucos momentos deixamos de ser o que éramos para logo ser substituído por algo novo, mas ainda sim volúvel diante do dinamismo da vida. Vida essa que chega e enverga nos ombros como peso – que não pedimos para carrega-lo. Ainda assim, nos mantemos forte e o suportamos da melhor forma que podemos. É a dinâmica do tempo que carregaremos ao longo dos nossos dias.

Assim como o tempo nos chega como um fardo o clichê – que por ser tão óbvio só poderia ser uma invenção humana – nos acompanha: a responsabilidade que nos estapeia é justamente para que possamos cumprir um suposto papel social. Crescer, estudar, escolher uma carreira, consolidar a carreira, criar uma família e envelhecer. Não sou o primeiro a refletir, ainda que superficialmente, e nem o último sobre isso.

Nesse processo esquecem apenas de nos falar que para cada um desses momentos são necessárias várias e várias escolhas. Cada definição é um caminho novo que se abrirá, seja ele para o mal ou para o bem. É nesse momento que o tempo se torna pesado e curto. Quando envolve apenas a nossa existência as coisas tendem a ser mais fácil, o problema é que nunca estamos sozinhos, e as nossas escolhas afetam a quem está o nosso redor.

Seria bom se as coisas fossem mais fáceis, se a simplicidade fosse uma escolha e se as nossas vidas seguissem um curso seguro. Para alguns o fato disso não exigir consiste no milagre da existência. Para mim um fardo com o qual lidamos. A reflexão é curta termina com um brinde curto e direto: "sou tudo o que posso ser neste momento" – só lamento decepcionar o velho Buk e, ao invés de compartilhar um vinho, encerro essas linhas com um gole de café.