Estava
tão acostumado com aquele caminho até os correios que já havia parado de
reparar no que estava ao meu redor. As mesmas árvores, os velhos prédios comuns
em toda cidade grande, os mesmos mendigos e a já costumeira correria do ir e
vir das pessoas. Nada que ninguém já tenha vivenciado em sua cidade. Mas após
aquela tarde aprendi a valorizar mais o espaço que estava ao meu redor.
Como
de costume havia saído para comprar alguma coisa para acabar com a ressaca. É
certo que já vinha me acostumando com os resultados das bebedeiras causadas
pelo uísque barato, um hábito que tomava gosto nos períodos em que me faltava
algum trabalho. Não é que sinto orgulho pelo scotch paraguaio, mas meu orgulho
não me deixava abandonar antigos vícios: uísque caubói, tabaco, um ou outro
entorpecente e uma companhia feminina. Acredito que alguns dos velhos hábitos
não devem ser mudados. Jamais!
Sai
para aquela caminhada habitual a procura de uma soda gelada e algo barato para
comer, somente para conseguir me manter em pé até a próxima bebedeira. Ao
passar pela multidão eu a vejo ali, parada a alguns metros e fico
momentaneamente parado, hipnotizado pela beleza que via. Era aqueles momentos
em que você sabe que precisa tê-la, ainda assim não sabe como se aproximar. Mas
o desejo te empurra pra cima...
Os
olhares se cruzaram e um breve sorriso é projetado. Um sinal verde sem dúvida.
Ensaio uma aproximação, mas o recomeço de uma caminhada e os passos dela
aumenta a distância. Por essa eu não esperava. Até que um olhar por cima do
ombro em minha direção me convida a prosseguir e a adrenalina causado por
aquele momento me inspira confiança.
O
jogo continua! Algumas esquinas depois ela entra em um prédio e logo em seguida
tomo o mesmo destino. Portaria a dentro consigo ver aquela beleza de perto,
ainda mais convidativa. Olhares trocados, algumas palavras pronunciadas e logo
estamos na escadaria do prédio em algum lugar entre o primeiro e quinto andar,
acho.
As
coisas esquentam, os beijos se sucedem e nenhum nome é pronunciado. A
informalidade do encontro aumenta ainda mais o tesão e é nesse momento que
percebe-se que não se pode mais segurar. Sexo e somente sexo é esperado. Isso é
o que pensávamos até aquele clarão. Gritos e algumas peças de roupas de volta ao
lugar. Até hoje não sei como a polícia chegou tão rápido ao lugar.
Quando
fui perceber a situação a segurança havia aparecido rápido e contatado aquelas
pessoas fardadas. Não sei porque o interrogatório foi a mim, somente a mim. Até
hoje não sei porque disse aquelas palavras - "a vi na rua, segui até aqui
e nos pegamos" - quando sóbrio sempre falo demais.
Algemado
e colocado dentro da viatura recebo o beijo de despedida. Como aqueles não
perceberam que a mulher estava a fim, houve ali uma despedida. São aqueles
fatos que nunca terão uma explicação coerente. Dentro daquele carro a caminho
da jaula fui reparando na vizinhança: as mesmas árvores, os velhos prédios
comuns em toda cidade grande, os mesmos mendigos e a já costumeira correria do
ir e vir das pessoas alienadas ao que acontecia ao seu redor. Já começava a
sentir falta daquilo, do scotch e dela, que mulher. Talvez agora finalmente eu
aprenda a falar um pouco menos.
Em
tempo: crônica levemente inspirada nos escritos do velho Buk. Um brinde!
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