Folheava um antigo caderno em que costumava anotar
pensamentos diversos e um sem número de pequenas reflexões. Ali era o reduto de
tudo aquilo que um dia esperava escrever. Todas as minhas divagações reunidas
em um bloco de capa preta. A cada página virada o sentimento de frustração
aumentava. Nada, absolutamente nada estimulava alguma ideia que pudesse colocar
em algumas linhas.
A necessidade de se criar um sentido para tudo já não se
apresentava como uma ideia interessante. Alguém disse uma vez que a raça humana
se dá importância demais. E essa arrogância natural do ser humano é que provoca
uma eterna sede de poder explicar tudo, saber tudo. Mesmo que isso, na maioria
das vezes, nos leve a um estado de imbecilidade tremenda. O que não foge muito
de nossa natureza. Que terrível ironia.
Religião, ciência, política, economia, imprensa, sistemas,
sistemas e sistemas. Um amontoado de teorias e ações que ao mesmo tempo que
tentam nos organizar em um grupo – e cada vez mais coeso, ó céus – tentam gerar
um sentido para nossa vida. Estude, arrume um emprego e construa uma carreira.
Case e tenho filhos. E consuma, consuma, consuma. Mantenha o sistema
funcionando e aos domingos compareça à missa.
Tudo isso me parece bastante sem sentido. As nossas vidas
transcorrem sem escolhas – por mais que pensamos ao contrário –, pois tudo o
que fazemos é para se enquadrar a um grupo e se tornar mais uma peça que fará
com que a engrenagem funcione. Eu não preciso criar sentidos ou explicações. Quero
minhas escolhas. E que se dane todo o resto!
Enquanto nos perdemos em um mundo de divagações todo o
universo segue o seu rumo. Totalmente indiferente ao que acontece com a raça
humana. Somos insignificantes. O tempo irá nos sobrepor. O meu velho caderno de
capa preta continuará abrigando os meus pensamentos e seguirei procurando uma
nova inspiração em cada esquina. E mesmo assim o tempo irá nos sobrepor –
totalmente indiferente.
Sempre haverá um amanhã: o sol nascerá e irá se por. Bebo
mais uma xícara de café e fumo outro cigarro enquanto observo o sol se por mais
uma vez. Continuarei seguindo sem a obsessão de ter um porque para tudo. Não preciso
trocar o meu viver por respostas mirabolantes. De onde vim e pra onde vou? Não
tenho a menor ideia, mas sigo meu caminho em paz. Enquanto tiver uma boa xícara
de café em minhas mãos sei que o sol continuará a nascer. E isso me basta.
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