quarta-feira, janeiro 12, 2011

Pequenos reflexos


Um reflexo. Seja na beira de um rio ou na vidraça de uma velha cabana. Quem sabe no espelho do quarto ou na tela do computador enquanto dispara palavras em um documento em branco. A imagem repetindo seus movimentos como em uma cópia fiel sempre o impressionaram. O que via ali era quase uma fixação.

Concentrar em algo sempre foi uma tarefa árdua, nos tempos românticos diriam que vivia uma batalha inglória, ainda que necessária. Foi só através da sua imagem refletida que o exercício de reflexão tornou-se fácil, um êxtase de ideias ou uma avalanche criativa.

Aos poucos passou a guardar pequenos espelhos nos seus armários, além de carregá-los nos bolsos, na mochila e até mesmo no carro. Não conseguia desenvolver nada sem o vítreo reflexo que o encantava. Alguns passaram a vê-lo como um maluco: não era uma pessoa egoísta, mas sua vaidade atingia limites preocupantes.

Aconselhado foi buscar ajuda com alguns especialistas. Nas várias opiniões que escutou nunca foi censurado, afinal não deixava de cumprir o protocolo social a que todos somos designados, embora, para ele, existisse a necessidade dos já conhecidos pequenos espelhos.

Assim seguia sua vida sem maiores problemas ou grandes mudanças. Até que um dia passou a ter uma preocupação real com a sua sanidade: já não conseguia entrar no Google sem procurar, antes de tudo, pelo seu próprio nome. Ali assinava o seu atestado clínico.

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