segunda-feira, dezembro 28, 2009

A espera é difícil...


Stop. A vida parou ou foi o automóvel?
Não sei... provavelmente foi a vida... o carro nunca pára... Embora devesse, uma vez que o pedestre tem preferência. Pelo menos na maioria das vezes. De uma forma ou de outra, acredito que pedestre é igual a freguês, tem sempre razão. Por isso que digo, o andarilho é um filósofo... Anda, anda, anda, se depara com estradas de terra, pedras, cascalhos, ribanceiras, montanhas, rios e cachoeiras... tudo bem... esse andarilho só existe na minha imaginação... ou existiu em um tempo muito muito remoto...
De fato, o andarilho hoje é o mendigo de rua que percorre avenidas engolidas por edifícios inglórios... sobrevive milagrosamente na selva urbana... habitat mais inóspito que o deserto do Kalahari. Tem que ser forte! O pedinte é, antes de tudo, um forte. Precisa humilhar-se para sobreviver... e para isso, meu caro, é preciso ter culhões...

"Não estou aqui porqueu quero... é porqueu preciso... meu sonho é andar que nem a vocês..." Transeunte pedindo esmola no ponto de ônibus.
Belo Horizonte.
Av. Afonso Pena.
18:42h

Estava eu dentro do ônibus nesse tempo, não vi seu rosto.. Apenas ouvi estas palavras sendo proferidas no momento em que o ônibus parava... ou melhor... ausentava-se de seu movimento recolhendo almas que de pé acenavam desesperadamente para sair daquele lugar. O andarilho estava em meio às pessoas. Pessoas esperançosas...
Esperançosas em avistar, ao final do horizonte, o número da linha destinado à trajetória homérica... ao itinerário odisseu que chega em Jassanã... abrigo protegido... lar doce lar ... Esperançosas como imigrantes no porto vendo navios e esperando aquele que os levará de volta à terra natal.
Como diz o cronista, quem espera se sente incompleto. Mas o andarilho, o que espera? O ônibus, certamente, não é... sua casa é a rua. Amor? Compaixão? Reconhecimento? Pena? Talvez... mas a espera visceral é outra...
O que lhe falta é o pão. O pão nosso de cada dia.
O que fazer? As moedas no meu bolso não resolvem o problema. Às vezes dá vontade de rezar... mas eu não acredito em deus... nem em deus, nem em Deus.
Talvez o próprio andarilho reze e, talvez, para ele faça sentido. Assim como a arte é a sublimação do desejo... a prece é a sublimação do pão.

Prece... sublimação do alimento... para o andarilho... e... talvez... para os padres.

Eu? O que espero? Não sei... Espero terminar essa crônica sem frases clichês. E, talvez... quem sabe... sem um ponto final no final.

Espero um mundo melhor... e sei que ele vai melhorar.
Será
Ponto de ?

Um comentário:

  1. Muito bom seu texto, Pedrão. Nossa revolta pela falta do outro vai sendo massacrada ao longo de nossa vida. E o que começou com um grito surdo, ao final, pode crer, cara, se transforma apenas num observar calado. Testemunho de uma época. A não ser que a gente faça parte de um grupo,que milite em cima de um ideal, trabalhando corpo a corpo para ajudar esse povo sofrido, ou tenha uma idéia colossal e consiga colocá-la em prática para ajudar muitos de uma vez, crescendo de uma forma exponencial. Consegui me fazer entender ou está muito confuso? Áh! Quer saber? Valeu, cara...

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