terça-feira, janeiro 04, 2011

Reflexões sobre um verão

Era uma noite calma, típica de qualquer cidade interiorana. Não se ouvia os sons de carros ou buzinas apenas um grilo ao fundo. Pela janela não existiam prédios e suas marquises, tampouco mendigos ou trombadinhas. A única exceção dessa lista seriam os bêbados, esses existem em qualquer lugar: desde uma metrópole até a mais remota aldeia.

É incrível o poder que um cigarro possui nas noites mais solitárias, não somente pelo companheirismo, mas também por ser um grande instrumento de organização de ideias. Um trago vira uma vírgula, uma baforada um ponto final. Nunca dispensei um cigarro nos momentos de reflexão, muito menos uma fotografia. Sempre empreguei muita atenção às lembranças, arrependimentos me perseguem, bons momentos ficam cada vez mais distantes e os sorrisos cerrados em algum lugar num álbum fotográfico.

Naquele verão poucas coisas conseguiam aquietar meus sentimentos: apenas uma caneta, papel e um monte de palavras soltas, jogadas sem cerimônia em uma pilha de rascunhos. Na verdade não conseguia me concentrar em quase nada, apenas na foto daquela bela mulher. Os cabelos negros se transformavam em desejo, os olhos em obsessão e o sorriso em sonhos.

Naquela noite de 1.957 começava a entender o destino que era reservado aos sonhadores: perder sem nunca ter possuído, escrever sem nunca ter sentido e aos poucos confundir lembranças com a imaginação.

2 comentários:

  1. Caraca! 1.957... Eu amo as noites de verão. Não pelo calor, mas pela plena sensação de querer sair de casa e sentir o vento soprar meus cabelos, olhar o céu. E claro, encontrar os amigos e tomar uma cerveja bem gelada!

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  2. li o texto algumas vezes, ele me provoca estranhas sensações existenciais, acho que tem uma influência de Drummond aí.. por acaso vc é conterrâneo dele?

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