quinta-feira, maio 17, 2012

Apenas uma caminhada #1




Estava tão acostumado com aquele caminho até os correios que já havia parado de reparar no que estava ao meu redor. As mesmas árvores, os velhos prédios comuns em toda cidade grande, os mesmos mendigos e a já costumeira correria do ir e vir das pessoas. Nada que ninguém já tenha vivenciado em sua cidade. Mas após aquela tarde aprendi a valorizar mais o espaço que estava ao meu redor.

Como de costume havia saído para comprar alguma coisa para acabar com a ressaca. É certo que já vinha me acostumando com os resultados das bebedeiras causadas pelo uísque barato, um hábito que tomava gosto nos períodos em que me faltava algum trabalho. Não é que sinto orgulho pelo scotch paraguaio, mas meu orgulho não me deixava abandonar antigos vícios: uísque caubói, tabaco, um ou outro entorpecente e uma companhia feminina. Acredito que alguns dos velhos hábitos não devem ser mudados. Jamais!

Sai para aquela caminhada habitual a procura de uma soda gelada e algo barato para comer, somente para conseguir me manter em pé até a próxima bebedeira. Ao passar pela multidão eu a vejo ali, parada a alguns metros e fico momentaneamente parado, hipnotizado pela beleza que via. Era aqueles momentos em que você sabe que precisa tê-la, ainda assim não sabe como se aproximar. Mas o desejo te empurra pra cima...

Os olhares se cruzaram e um breve sorriso é projetado. Um sinal verde sem dúvida. Ensaio uma aproximação, mas o recomeço de uma caminhada e os passos dela aumenta a distância. Por essa eu não esperava. Até que um olhar por cima do ombro em minha direção me convida a prosseguir e a adrenalina causado por aquele momento me inspira confiança.

O jogo continua! Algumas esquinas depois ela entra em um prédio e logo em seguida tomo o mesmo destino. Portaria a dentro consigo ver aquela beleza de perto, ainda mais convidativa. Olhares trocados, algumas palavras pronunciadas e logo estamos na escadaria do prédio em algum lugar entre o primeiro e quinto andar, acho.

As coisas esquentam, os beijos se sucedem e nenhum nome é pronunciado. A informalidade do encontro aumenta ainda mais o tesão e é nesse momento que percebe-se que não se pode mais segurar. Sexo e somente sexo é esperado. Isso é o que pensávamos até aquele clarão. Gritos e algumas peças de roupas de volta ao lugar. Até hoje não sei como a polícia chegou tão rápido ao lugar.

Quando fui perceber a situação a segurança havia aparecido rápido e contatado aquelas pessoas fardadas. Não sei porque o interrogatório foi a mim, somente a mim. Até hoje não sei porque disse aquelas palavras - "a vi na rua, segui até aqui e nos pegamos" - quando sóbrio sempre falo demais.

Algemado e colocado dentro da viatura recebo o beijo de despedida. Como aqueles não perceberam que a mulher estava a fim, houve ali uma despedida. São aqueles fatos que nunca terão uma explicação coerente. Dentro daquele carro a caminho da jaula fui reparando na vizinhança: as mesmas árvores, os velhos prédios comuns em toda cidade grande, os mesmos mendigos e a já costumeira correria do ir e vir das pessoas alienadas ao que acontecia ao seu redor. Já começava a sentir falta daquilo, do scotch e dela, que mulher. Talvez agora finalmente eu aprenda a falar um pouco menos.


Em tempo: crônica levemente inspirada nos escritos do velho Buk. Um brinde! 

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