segunda-feira, setembro 02, 2013

O protesto de Nyrete




As manifestações que tomaram conta das ruas de todo o país em meados deste ano contribui para a ampliação de debates e para destacar as mazelas de um país em crescimento que não consegue se livrar de antigos problemas. Se por um lado as vozes que protestavam nas ruas enchiam o espírito com a esperança de se ter um Brasil mais justo por outro lado escancarava uma nação de realidades contrastantes. E que ainda tem muito que progredir.

Parte dessa conclusão não surge a partir dos exemplos que os nossos políticos nos dão a cada dia para mantermos o descrédito em nossas instituições públicas. Mas sim a partir da realidade que podemos ver em muitos brasileiros que seguem à margem da sociedade e confinados em um mundo sem perspectivas e alheios a qualquer oportunidade de poderem dizer que ao menos podem acreditar em ter um futuro.

Em um dos epicentros das manifestações que dominaram o país – Belo Horizonte – e alheia aos gritos que eclodiam na praça Sete de Setembro, uma mulher em posse de um pouco de tinta trouxe às ruas um protesto silencioso, particular e que muitos não tiveram a oportunidade de acompanhar. As imagens que acompanham esse artigo não conseguem traduzir os intensos sentimentos daqueles que puderam compartilhar à cena.

As palavras pintadas em um compensado – que substituía as portas de vidro de um banco – continham uma força transmitida pela dor que as acompanhava. O texto, que se inicia com uma menção ao prenome da Presidente da República, Dilma, logo era terminado com um SOS. O pedido de socorro de Nyrete: que diante de tudo que se gritava desejava apenas o fim do crack, apontado como um dos piores males da sociedade moderna.

“Dilma! Acabem com o crac [sic]. SOS Nyrete”. Curta, direta e impactante. Foi necessário poucos minutos para deixar a sua mensagem e sair de cena. Mas sem dúvida que o silencioso protesto de Nyrete resultou, ao menos para mim, na principal reflexão sobre os alvos da manifestação.

O que Nyrete quis no dizer é a necessidade de respeito. Respeito a uma sociedade que não se constrói – e não se destrói – sozinha. Respeito ao ser humano, que no mais simples gesto grita por um pouco de dignidade. Dignidade essa ceifada pelos desejos mesquinhos e individualistas que movem o ser humano. Nyrete disse, mas quantos a escutaram? 

Crédito das fotos: Gustavo Linhares

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