terça-feira, dezembro 03, 2013

desculpe o transtorno


Das muitas conclusões a que minhas noites insones me ajudaram a chegar, uma eu tenho que compartilhar: as pessoas não deveriam me deixar sair na rua sem ostentar, brilhante e lindamente, uma bela placa no pescoço com os dizeres "desculpe o transtorno, mulher inteligente".

Num mundo de mulheres pré-fabricadas e enlatadas, personalidade virou artigo de luxo. E a gente se sente na obrigação de avisar quando saímos da fábrica com o grave defeito de ter pensamento próprio.

Mas acho que no meu caso, sou produto descartável da fábrica de mulheres do Século 21. Não passar nos testes de padronização é motivo de sobra para ser descartada imediatamente.

Eu sinto informar a quem curte beldades produzidas em série que encabeço o lote com maior número de defeitos graves:

- não passei na pesagem apresentando valores acima da média geral;
- tenho gosto exacerbado pela leitura de livros, o que implica em conhecimento profundo do português formal;
- assisto noticiários e leio jornais o que faz de mim um ser com nível intelectual disforme para o padrão de qualidade exigido;
- minhas peças de roupa não são coladas, transparentes, curtas ou decotadas, caracterizando uma disfunção social avançada;
- meus cabelos vieram lisos e castanhos impossibilitando o uso de químicas avançadas de descoloração;

Como se vê, minhas chances de recall são mínimas, portanto tenho pouca salvação nesse sentido.

Em compensação, tenho a possibilidade de me destacar nos bazares e brechós por onde passar por atrativos antes dispensáveis. Sendo uma produção mal-sucedida, vim com um adicional de fábrica raro: vontade própria. Assim, não me privo ao defender minhas ideias e linhas de raciocínio. Também não me permito abrir mão do meu prazer pessoal com o sexo oposto e não me saboto no que diz respeito "aproximação de seres de mesmo defeito".

Posto isso, aviso aos navegantes: esse barco tem comando e, definitivamente, não está navegando ao léu. E tem mais, temos uma vaga disponível para o cara que ousar integrar essa tripulação.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Concorda? Discorda? Opine!