segunda-feira, outubro 05, 2009

Mudança, esse obscuro objeto de desejo...


Associação livre?

Não. Não é uma rádio pirata. O quê? Não! muito menos isso! Valha-me deus. Uma comunidade de associados!? Aqueles clubes fechados baseados na exclusão? Onde só entram membros cujos pré-requisitos foram obedientemente modelados pela ideologia reinante? Tipo Confrarias de maçons, clubes, sociedades, pelamordedeus...

Esses grupos primam pela homogeneização, pelo apagamento das diferenças, pelo anulamento do eu e de todo o repertório de identidade dos membros que as compõem, com exceção, é claro, daquele traço-característica indispensável para a permanência no grupo... Falo isso porque eu sou múltiplo. Assim como você é. Todos nós possuímos identidades multifacetadas.

Ninguém possui uma única identidade, mas sim um repertório de possibilidades inúmeras. Concordas? "Eu sou vários, eu somos" já dizia o cronista... Então- voltando à vaca fria- para se inserir no grupo é preciso passar por testes, no mínimo por uma avaliação, um procedimento de exclusão (a maioria chama de seleção), mas, de fato, quem sofre a exclusão é, paradoxalmente, o novo integrante, o vencedor e não o dito fracassado, eliminado, "injustiçado" ou "sortudo"-sortudo no meu ponto de vista. Por quê?

Bom, porque em sua convivência diária com o novo grupo,clube, confraria, sociedade ou sei lá como você prefere chamar, o novo participante - ser humano de potencialidades infindáveis - será visto e reduzido ao ponto comum que o liga aos demais membros do grupo. O ponto de uniformização. Justamente o ponto que garantiu sua entrada, sua aceitação no clube. Isso determinará, portanto, um exercício constante desta característica, desta identidade em detrimento de todas as outras que o constituem. Assim, o sujeito, que antes era um painel gigantesco, uma cartolina de proporções estratosféricas (pode escolher a metáfora), se tornará, apenas, e em pouco tempo, um mero recorte circunscrito, fragmentado. Excluídos e reprimidos serão todos os seus sonhos, suas fantasias, sua vontade de viver outras verdades que fazem parte dele(a), mas que ele(a) não pode ser naquele lugar. O grupo fechado é estático. Paralisado. Cheio de grades e restrições.

Como diz Heráclito, uma solução em um frasco, se não é agitada, perece. É preciso: atitude, ação, movimento, metamorfose: Mudança! Porque viver é mudar... Concordas?


P.s.: o leitor pode me perguntar: Mas se a Associação é livre, porra, não existe pré-requisito, não existe porra nenhuma de seleção, a associação torna-se heterogênea e múltipla, construída a partir das diferenças, das contradições, você falou um monte de merda que não tem nada a ver com a proposição inicial da associação livre.

Concordo plenamente e respondo que, na verdade, minha intenção original era debater o método psicanalítico proposto por Freud. No entanto, as palavras têm vida própria. Não são controladas por nós. Seguem livres, sem amarras, já dizia o próprio Freud em sua teoria que, inclusive, contempla muitas das questões abordadas acima. Só não vou me adentrar agora.

De uma forma ou de outra, o que importa é o ponto de ?


4 comentários:

  1. Olha Pedrão, concordo com tudo que você disse... sobretudo que no fim o que realmente importa são as interrogações, é através dela que evoluímos como seres humanos e partimos para novos desafios. Grande texto camarada.

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  2. PORRA...que texto do caralho.
    sabe o que eu digo? eu digo que, sim, todos esses grupos, associações e cabras leiteiras (não! cabras leiteiras não, elas têm algum respeito próprio) são uma anulação das pluralidades. Mas pq existem tantas? por mais que sejamos muitos, há algo que almejamos muito (nem todos, mas muito de nós...apenas lembre-se quando era mais novo). E isso que almejamos tanto, e não é o sexo oposto, é ser aceitos. Ser aceito é bom, ter uma identidade comum com pessoas que vc ache bacana (mesmo que elas não sejam) é bom. è bom poder falar "Olhe! somos família, todos nós montamos cabras leiteiras aos sábados". Mesmo que haja a necessidade de perder todos os outros...

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  3. Otimo tema. Concordo com tudo que foi dito. As pessoas realmente seguem um identidade especifica geralmente adaptativa ao meio e esquecem da mutalidade da mente. A fixacao de uma determinada identidade prejudica o individuo, limitando suas capacidades criativas e seus talentos. Uma perda do centro, a despersonalizacao, eh uma maneira muito mais simples, e evita e ajuda a entender os inumeros conflitos egoicos provenientes da identificacao.

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