sábado, novembro 20, 2010

o princípio da incerteza



Disse que não. Insistiu. Por favor? Não. Sinto muito. A bem da verdade, não sentia nada. Absolutamente nada. Resoluto, apagou o cigarro no cinzeiro da mesma forma que a beijara da última vez: amassando a guimba para apagar a chama que agonizava em seus últimos fachos de luz vermelho-alaranjados. O fogo não dura pra sempre. O brilho das estrelas tem seu fim. A energia que alimenta o sol se esgotará e todo aquele calor tornar-se-á carbono frio. Você não vale nada! Imprestável! O que mais o preocupava não era a dúvida em relação a ela. Em relação a ela não havia dúvida. Estava na sua frente e ele nem se dava conta. Escutava o zumbido de um inseto mas não ouvia sua voz. Disse alguma coisa? Nada. Você não vale na... Absorvido em devaneios vãos, preocupava-se mais com  temas filosoficamente mais profundos. A metafísica, os dilemas da física quântica, a existência humana, a morte, o sentido da vida, aonde passar o reveillon? Introspectivo, refletia. Já imaginou como é louco viver? Como é louco flutuar no espaço andando sobre uma bola? Uma espaçonave azul? Vivemos em um peão rodopiante que descreve uma circunferência em torno de um centro flamejante e gira em torno de um eixo próprio em trajetórias cujas relações matemáticas sustentam as leis gravitacionais e a relatividade geral, construindo, numerica e simultaneamente, o gráfico quadridimensinal do universo. O tecido espaço-temporal! Há físicos que dizem que o universo tem 11 dimensões. Onze dimensões!? Dá pra acreditar? Galileu ficaria espantado! Já Newton, louco e totalmente insano, vislumbraria o universo como meu deus, você me bateu? hauhau Calma, que foi? Disse alguma coisa errada? Em que estou pensando? Em nada. Nem me lembro mais. Só pedi um tempo. Um tempo para pensar. Nada mais. Achei que houvesse compreendido. Lembre-se de que o tempo é relativo. Por que me olha assim com essa cara? Parece que chupou limão azedo. De súbito, ela se levanta e sai, apressada, deixando a cadeira vazia. Volta. Apanha a bolsa. Sai. Ele? Acena para o garçon e pede a conta. Estranho no tempo, perdido no espaço, completamente só... no universo.

Ilustração: http://sqcoisa.files.wordpress.com/2010/07/boemia01.jpg

6 comentários:

  1. Nossa, nunca tinha pensado na Terra como um "peão rodopiante que descreve uma circunferência em torno de um centro flamejante", não com essas palavras pelo menos. Muito interessante o seu texto, não preciso nem dar os parabens, não é?
    Abraço!

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  2. curti o ritmo velho!
    mandou brasa mesmo...
    esse EU parece você Pedrão..
    belos escritos...

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  3. Ah, adorei! Fiquei tentando imaginar a cena...

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  4. A história segue um fluxo muito legal, discontínuo.
    Deveríamos ter falado mais dos seus textos do que de outros. Se eles forem tão legais quanto este, então!

    inté.

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  5. Méuri, gostei do "i" no "discontínuo". foi proposital não foi? tive outra ideia: discuntínuo d..i s . .cu..n..t ..í ...n. ...u . o

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  6. hahaha ><
    peor que não foe.
    vergonha.
    isso não é serto nem çerto. nem certo.

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