quinta-feira, setembro 23, 2010



Acomodou-se no final do salão, buscando o espaço bem ao lado da janela gigante. Tomou o primeiro gole da sua cerveja gelada em um copo elegante. Parou para analisar as pessoas enquanto não chegava a sua companhia.

Bem na entrada estavam as mesas com concentração máxima: velhinhos pançudos afogados em suas gravatas azuis em todos os tons, e as velhinhas em vestidos florais gigantes e maquiagens estranhas.

Um pouco mais distantes, porém bem perto da entrada e saída dos canapés, estava a concentração dos gordinhos sorridentes e das tias solteironas. Pôde perceber que a disputa da conversa era dividida em qual salgadinho era melhor ou como “fulana” estava acabada com o divórcio.

Pegou outro copo de cerveja, ascendeu um cigarro e continuou a exploração do ambiente. No meio da pista de dança estavam os jovens mais desinibidos. Nas laterais os mais tímidos moderavam-se na dança, mas não saíam da pista.

Sua visão então parou em uma mesa. Ali estava a única pessoa que importava nessa noite. Sorriso discreto, cabelos muito bem arrumados num penteado digno de uma estrela de cinema. Num vestido longo que, com certeza, tinha feito somente para ela. Estava simplesmente incrível, e merecia. Era seu dia, o mais sonhado dia de todas as mulheres. Ao seu lado, a pessoa na qual mais odiava. Ainda não muito feliz em admitir, também estava sensacional. Era realmente um casal lindo!

Uma dor no peito... poderia ter mudado isso se não fosse tão criança. Uma lágrima começa a cair. Por que não lutou, por que simplesmente aceitou o seu erro e desistiu?

Já pensava em ir embora quando, enfim, chegou sua companhia. Bastou só um sorriso para se lembrar: foi esse sorriso que fez jogar tudo para o alto e correr o mais delicioso risco de Amar!!

quinta-feira, setembro 16, 2010

A síndrome da mulher impossível

Adentrei no grande salão a passos largos, estava decidido a ter uma conversa séria, já fazia algum tempo que tinha vários pensamentos que me sufocavam e precisava desabafar de alguma forma. Ainda que estivesse convicto, aquela situação me parecia ridícula: logo eu buscando apoio ali, naquele salão?


Não sei quanto tempo fiquei parado entretido nos meus pensamentos, mas percebi que era observado há algum tempo. Aquele olhar de sincera preocupação mexeu muito comigo, despertou em mim um sentimento que conhecia bem, mas ali não era lugar para extrapolá-lo. Até para mim era um completo absurdo.


Com passos vagarosos uma bela mulher se aproximou. Fiquei desajeitado, era uma situação no mínimo estranha. Ela, mais que depressa, ofereceu ajuda, um ombro amigo no qual pudesse desabafar. Não havia porque não aceitar, falei sobre a vida que levava e o quanto aquilo me angustiava. Bom, não me arrependia de muita coisa, mas alguma coisa me faltava e eu queria preencher essa lacuna de qualquer jeito.


Pacientemente ela me ouviu, ponderou um momento e se pôs a falar: “não posso te oferecer os meus conselhos habituais, pois sei que não te ajudaria, mas posso ajudar de outra forma se assim me permitir”. Congelei por um instante, mas já não tinha muito o que fazer: ela havia abaixado e abocanhado o meu pênis e com ele brincava.


Sabia que ela era casada e como em todo matrimônio a mulher tem desejos e quando não tem suas necessidades supridas tende a tomar atitudes impulsivas. Bom, o relacionamento dela não era o convencional, mas ainda sim ela tinha desejos – mesmo que não justificassem a situação no qual encontrávamos. Porém, sua atitude me condenava a uma sentença terrível: naquele momento tinha comprado a minha passagem para o inferno!


Dizem que não há perdão para quem traí Deus e eu me entregava a uma brincadeira bem sacana com uma de suas esposas. Uma freira porra!


Tão de repente como foi o começo aconteceu o seu final, na verdade foi um soco de realidade que me atingiu. Estava deitado em minha cama, ainda tonto de sono e um tanto incrédulo com o sonho que acabara de ter. Nada tinha sido verdade e uma parte de mim lamentava a aventura perdida, enquanto a outra parte tinha uma certeza: precisava parar com urgência de consumir pornografia na internet!

sábado, setembro 04, 2010

Eram os novos tempos


Os prédios se erguiam rumo ao céu negro, pouco estrelado devido à poluição comum às cidades grandes, pelas ruas apinhadas de pessoas, muitas celebrando sabe-se lá o que nos diversos bares comuns naquela região, caminhava uma figura que destoava daquela paisagem.

A madrugada avançava a passos largos em direção do amanhecer e com ela uma figura, portando inúmeros livros – alguns romances, uns dois de filosofia e um jornal de notícias velhas e sem muito sentido àquela hora. Já havia bebido boas doses de álcool e vinha fumando alguns cigarros e por alguma razão sentia-se deslocado, não sabia o porquê já que era um típico exemplar daquela fauna: fanfarrão, boêmio no sentido mais amplo da palavra.

O cérebro não parava, suas reflexões mudavam na mesma velocidade que seus passos, acreditava que aquele fenômeno era mais um sinal dos novos tempos. Tudo estava muito rápido e como todos os jovens da sua geração havia se adaptado muito bem a esse cenário, logo os seus pensamentos estavam mais ágeis e como consequência imediata mais vazios. A princípio veio à revolta, depois a conformidade: não havia nada a se fazer contra os novos tempos.

A muito o mundo já não era mais o mesmo. Costumava se gabar por não ser um saudosista, sabia que as coisas tinham que evoluir e aceitava essa mutação muito bem, mas naquela noite sentia falta de um pouco mais de árvores, um pouco mais de animais, um pouco mais de tempo.

Parou em frente à portaria de seu prédio e antes de entrar tentou recapitular todos aqueles pensamentos, talvez tivesse bebido demais ou fumado demais. Bom, naquele momento aqueles fatos já não importavam, sabia que no dia seguinte não lembraria daquela breve reflexão, o que definitivamente eram sinais dos novos tempos.