Estava sentado há horas em frente à máquina de escrever e a folha continuava em branco. Não conseguia colocar um só pensamento no papel que pudesse me render um conto, crônica ou poema. Aquele vazio começava a me desesperar. A garrafa de café se esvaziava em uma velocidade impressionante e o cinzeiro já acumulava um grande número de bitucas de cigarro. Tinha uma grande necessidade de escrever, mas ainda assim não conseguia.
Os pensamentos voavam pela minha cabeça e conseguiam escapar
antes mesmo que formulasse uma palavra. Em certos momentos a mente trabalha a
mil por hora transpassando em um cem números de ideias sem que nenhuma se
consolide em algo concreto. Um tamborilar de pensamentos que retumbam em nossas
cabeças sem que ganhem eco.
Incrível! Até as metáforas eram fracas e não mereciam se
quer uma nota de roda pé. Ê árduo o trabalho de escrever.
Às vezes aquilo que mais gostamos de fazer pode se tornar um
verdadeiro martírio. Não porque perdemos o gosto, mas por simplesmente termos
uma vontade de fazê-lo constantemente como se fosse um processo industrial ou
uma obrigação. Sentar em frente a uma máquina de escrever, ajeitar o papel,
escrever e os pensamentos se transformarem em linhas como em passe de mágica.
Nem tudo é tão simples como pode parecer.
Em certos momentos as palavras brotam como se viessem de uma
fonte infinita de ideias. Disparam pelos nossos dedos direto para o papel sem a
necessidade de nenhum filtro ou reflexão complexa. É tão natural. Em outras os
parágrafos surgem forçadamente como se fossem obrigados a estar ali. Simples
necessidade de escrever. Mas perde o apuro – e parte da beleza.
Esses momentos me angustiavam. Faziam-me sentir vazio e que
algo faltava. Experiências, histórias, conhecimento... a vida parecia seguir
sem que nela estivesse presente, apenas passando. E é assim que a tristeza nos
atinge em cheio. Precisava escrever, escrever e escrever.
Os pensamentos continuavam a voar pela cabeça. E como num
bater de asas insistiam em escapar. Resolvi levantar e preparar mais café. Quem
sabe aquele cheiro do café sendo coado não desperte algo relevante a se
escrever. Afinal a folha continuava em branco enquanto a vontade de escrever
persistia – como se fosse um terrível aperto no peito.
Crédito: a foto é da máquina de escrever de Paulo Leminski e integra o acervo da exposição "Múltiplo Leminski".
Crédito: a foto é da máquina de escrever de Paulo Leminski e integra o acervo da exposição "Múltiplo Leminski".
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