quarta-feira, fevereiro 05, 2014

Ideias perdidas em um papel em branco



Estava sentado há horas em frente à máquina de escrever e a folha continuava em branco. Não conseguia colocar um só pensamento no papel que pudesse me render um conto, crônica ou poema. Aquele vazio começava a me desesperar. A garrafa de café se esvaziava em uma velocidade impressionante e o cinzeiro já acumulava um grande número de bitucas de cigarro. Tinha uma grande necessidade de escrever, mas ainda assim não conseguia.

Os pensamentos voavam pela minha cabeça e conseguiam escapar antes mesmo que formulasse uma palavra. Em certos momentos a mente trabalha a mil por hora transpassando em um cem números de ideias sem que nenhuma se consolide em algo concreto. Um tamborilar de pensamentos que retumbam em nossas cabeças sem que ganhem eco.

Incrível! Até as metáforas eram fracas e não mereciam se quer uma nota de roda pé. Ê árduo o trabalho de escrever.

Às vezes aquilo que mais gostamos de fazer pode se tornar um verdadeiro martírio. Não porque perdemos o gosto, mas por simplesmente termos uma vontade de fazê-lo constantemente como se fosse um processo industrial ou uma obrigação. Sentar em frente a uma máquina de escrever, ajeitar o papel, escrever e os pensamentos se transformarem em linhas como em passe de mágica. Nem tudo é tão simples como pode parecer.

Em certos momentos as palavras brotam como se viessem de uma fonte infinita de ideias. Disparam pelos nossos dedos direto para o papel sem a necessidade de nenhum filtro ou reflexão complexa. É tão natural. Em outras os parágrafos surgem forçadamente como se fossem obrigados a estar ali. Simples necessidade de escrever. Mas perde o apuro – e parte da beleza.

Esses momentos me angustiavam. Faziam-me sentir vazio e que algo faltava. Experiências, histórias, conhecimento... a vida parecia seguir sem que nela estivesse presente, apenas passando. E é assim que a tristeza nos atinge em cheio. Precisava escrever, escrever e escrever.

Os pensamentos continuavam a voar pela cabeça. E como num bater de asas insistiam em escapar. Resolvi levantar e preparar mais café. Quem sabe aquele cheiro do café sendo coado não desperte algo relevante a se escrever. Afinal a folha continuava em branco enquanto a vontade de escrever persistia – como se fosse um terrível aperto no peito.

Crédito: a foto é da máquina de escrever de Paulo Leminski e integra o acervo da exposição "Múltiplo Leminski".

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